Caros líderes de instituições portuguesas de ensino superior,
Vivemos uma situação de emergência. A sua multidisciplinaridade, interseccionalidade e complexidade fazem dela uma ameaça sem precedentes na História da Humanidade, mas é sobretudo a velocidade a que se aproximam as suas consequências, que já se fazem sentir hoje, que dita a urgência com a qual a devemos enfrentar. Trata-se da crise climática e é a maior ameaça existencial que a nossa espécie alguma vez enfrentou, o que apenas reforça a imperatividade de a encarar com a maior brevidade e rigor possíveis.
Os efeitos negativos da ação imponderada do ser humano sobre o planeta Terra são notórios e continuarão a crescer indefinidamente a menos que levemos a cabo alterações sociais drásticas. Constituindo as instituições de ensino pólos de mudança e de pensamento crítico e racional, deverão encontrar-se sempre na linha da frente da resposta aos problemas que a sociedade enfrenta, concretamente no caso da crise climática.
Só conseguiremos resolver verdadeiramente esta crise (e não apenas aliviar os seus sintomas) através de um empenho coletivo a nível mundial, de medidas governamentais ambiciosas e de colaboração entre países e organizações supranacionais. No entanto, a chave para a mudança global passa também pelo investimento a nível local: só uma sociedade constituída por comunidades com um forte sentido de dever social e ambiental se poderá aproximar da justiça climática. As faculdades e as suas políticas têm uma importância e impacto que não devem ser subestimados, pois ao criar mudanças nas suas comunidades locais têm o potencial de as impulsionar e espalhar por outros locais, organismos e instituições de poder, servindo assim de exemplo a replicar pelo resto da sociedade e promovendo mudanças de paradigma de larga escala.
A comunidade estudantil portuguesa une-se sob o apelo desta Carta Aberta, em nome do clima e de quem sofre atualmente e sofrerá cada vez mais no futuro pelos efeitos das alterações climáticas, procurando reavivar a luta estudantil por um planeta saudável e um futuro justo e digno para todas as pessoas. Vimos por este meio pedir às nossas instituições de ensino que declarem Emergência Climática.
Este ato não poderá ser apenas simbólico e deverá, imperativamente, ser acompanhado de um compromisso sério de implementação de medidas concretas e coerentes com esta mesma declaração. Deste modo, vimos exigir ainda que as nossas faculdades alcancem neutralidade carbónica até 2030. Este objetivo está em conformidade com a ciência climática atual, aproximando Portugal do previsto pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas como necessário para alcançar os objetivos expostos no Acordo de Paris. Para além disto, temos também em conta neste objetivo a responsabilidade acrescida que os países do norte global têm para o alcance destes objetivos e a obrigação das faculdades de impulsionar ambiciosamente esta luta. Estas reivindicações são assim realistas tendo em conta esses objetivos, além de estarem em linha com medidas que já estão a ser aplicadas em instituições de ensino internacionais, no âmbito de movimentos universitários de cariz semelhante.
Este movimento é subscrito por múltiplos grupos de estudantes distribuídos por várias escolas superiores portuguesas. Tendo em conta que a realidade climática difere entre instituições de ensino, contamos com estudantes de todo o país para apresentarem linhas de ação concretas e adaptadas às necessidades das suas faculdades, no sentido de alcançarmos o objetivo comum de neutralidade carbónica até 2030 nas nossas instituições. Sendo nós, a comunidade estudantil, as pessoas que futuramente assumirão a liderança para enfrentar as alterações climáticas, mostramos a nossa vontade de mudança, mas também de colaboração no sentido de trazer as nossas instituições de ensino para a linha da frente da luta contra a crise climática.
Assinaturas individuais
(atualizado a 17/10/2022)
Assinaturas coletivas
(atualizado a 17/10/2022)
Queremos pressionar os nossos líderes a agirem, mas também queremos ser parte da solução! Apresentaremos esta Carta aos líderes das nossas instituições, expressando a nossa vontade de mudança.
Redigimos também um conjunto de medidas que podem ser implementadas nas nossas instituições de ensino superior, com vista a estas se tornarem neutras em carbono. Estas medidas encontram-se compiladas por setor (energia, edifícios, transportes, alimentação, etc.) no Guia para a Neutralidade Carbónica 2030, revisto cientificamente por um perito.
Num tempo em que a crise pandémica justificou a declaração de estado de emergência a nível nacional, não podemos aceitar que a crise climática, cujas consequências serão ainda mais devastadoras a longo prazo, seja vista com menos gravidade.
O reconhecimento de um problema é o primeiro passo para a sua resolução. Cidadãos de todo o mundo já sofrem consequências diretas da ação humana imponderada, maioritariamente em países do sul global.
A declaração de emergência climática será o primeiro passo para a atenuação das consequências gravosas das alterações climáticas. Exigimos com esta declaração um compromisso sério de combate às alterações climáticas, medidas concretas, metas ambiciosas e um trabalho extenso e alinhado com a realidade da ciência climática atual.
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU informa-nos de que a neutralidade carbónica deve ser alcançada a nível global até 2050 para evitar o colapso climático.
Tendo em conta a maior quantidade de emissões de gases de efeito de estufa que os países mais industrializados provocaram, e dado o elevado índice de desenvolvimento económico de Portugal, temos a obrigação de contribuir mais ambiciosamente para este objetivo.
Para além disso, as universidades constituem importantes pólos de desenvolvimento, investigação e pensamento crítico, devendo sempre estar na linha da frente de importantes e necessárias mudanças.
Com tudo isto em mente, a nossa responsabilidade é clara: o alcance da neutralidade carbónica até 2030 nas instituições de ensino superior portuguesas!